best free css templates

Entrevista com André Rocha

Como se deu seu primeiro contato com a obra do autor Milton Rezende?

Foi no dia 25 de setembro de 1981 que conheci Milton Rezende, quando estávamos sendo empossados no cargo de Mensageiro da MinasCaixa, em Juiz de Fora. Casualmente conversamos sobre alguns assuntos e, em determinado momento, ele disse que escrevia. A partir daí passamos a conversar mais sobre literatura e ele me apresentou seus manuscritos que, na época, eram escritos a caneta mesmo ou datilografados. Cinco anos depois ele publicou seu primeiro livro, O Acaso das Manhãs.

Você identifica em algum dos livros que ele já publicou características românticas como o spleen?

Não é essa característica que predomina no conjunto da obra. Seus dois primeiros livros, O Acaso das Manhãs e Areia: à Fragmentação da Pedra são mais identificadas com a vanguarda ou modernismo brasileiro. Mas existem ecos do romantismo, só que sem o decadentismo que marca o spleen. Já Uma Escada que Deságua no Silêncio, A Sentinela em Fuga e Inventários de Sombras, seus livros mais recentes têm esta presença do romantismo decadentista francês, que foi influenciado por Edgar Allan Poe, e teve no Brasil, como expoente, Cruz e Souza. Ao mesmo tempo, há influência do pré-simbolismo de Augusto dos Anjos em várias imagens. Logo, existem as características românticas, mas muito diluídas no conjunto da obra.

É possível identificar, ainda, no estilo de escrita, ou em algum poema específico características deste período literário?

No estilo de escrita, não. Os versos de Milton Rezende são livres, enquanto o romantismo e o pré-simbolismo primavam por formas mais ritmadas. No caso do estilo, a identificação está com Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade.

Para você qual o aspecto mais significativo nas obras do autor Milton Rezende?

Como já dito, forte influência de Fernando Pessoa e Drummond, na forma escrita. Quanto ao conteúdo, uma angústia existencial que lembra a literatura da primeira metade do século XX.

Para você, qual é a função do escritor?

Não sei se esta pergunta se refere ao escritor Milton Rezende ou a todos os escritores. Então, vou responder qual a função de todo escritor. Stephen King disse que a função do escritor é contar uma história. Eu concordo com isto e digo mais: a função do escritor é contar uma história de forma escrita.

Com o fácil acesso à internet, tornou-se mais fácil para um autor divulgar seu trabalho. Você considera que houve uma banalização da literatura por causa disso?

Pelo contrário. Muitas pessoas diziam que a Internet iria acabar com a literatura. Tem gente que diz isso até hoje. A Internet possibilita uma maior divulgação dos trabalhos. Claro que existem escritores de várias qualidades, mas isto sempre existiu. Pessoas competentes e incompetentes existem em qualquer área, e na literatura isto não poderia ser diferente. Cumpre ao leitor se identificar com este ou aquele autor de sua preferência.

O que você considera necessário para que um autor se sobressaia entre os outros?

Quem dera se eu soubesse a resposta para isto. O trabalho literário se diferencia das demais áreas por este aspecto: não é a qualidade que conta, caso contrário não teriam tantos escritores de qualidade morrendo desconhecidos e até mesmo anônimos. Por outro lado, um escritor medíocre pode até se sobressair em determinado momento, mas sua “glória” dura pouco. Na minha opinião o que conta é sorte.

Fale sobre o autor Milton Rezende e sua obra.

Em termos pessoais, Milton Rezende é um dos dois únicos amigos que tenho (o outro é Jesus Cristo). Quanto ao autor, é sério e persiste na literatura, quando muitos desistiram. A persistência pode gerar o sucesso, claro. Quanto à sua obra, ela se confunde com sua vida. Milton Rezende escreve sobre aquilo que conhece. Veja o que ele disse há muitos anos (para falar a verdade, no século passado): “sempre amei como quem cometia um assassinato premeditado, que cobria várias fases de planejamento e execução”. Isto revela o homem revoltado conforme a concepção de Albert Camus, ou seja, um homem que se opõe à ordem que o condena à morte desde o nascimento. Desta inquietude surge seu impulso criativo que vem se aprimorando a cada publicação.