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Entrevista com Edson Bráz da Silva

Como se deu seu primeiro contato com a obra do autor Milton Rezende?

Eu o conheci na faculdade de Letras, na UFJF. Começamos o curso juntos, e o abandonamos também praticamente juntos, fizemos amizade, e a partir daí foi muita troca de informações literárias. Aprendi muito com ele, a quem sempre venerei.

Você identifica em algum dos livros que ele já publicou características românticas como o spleen?

Sim. É visível em sua obra uma proximidade temática com o spleen, pois a morte é tema recorrente em seus poemas desde os primórdios de sua escrita, embora de forma um pouco diversa do romantismo, pois para Milton Rezende ela faz parte da vida, ronda não apenas a sua vida, mas também a de todos nós. Sem lamúrias e choramingos, ele está sempre nos lembrando que ela está a nossa volta, como num sutil filme de terror. A morte não é fuga, ou solução, mas talvez apenas evidência da precariedade da vida.

É possível identificar, ainda, no estilo de escrita, ou em algum poema específico características deste período literário?

Penso que não, pois é um estilo literário que não é do agrado dele, cuja influência que se pode identificar, a meu ver, se resume à temática funesta.

Para você qual o aspecto mais significativo nas obras do autor Milton Rezende?

A radicalidade literária, a total entrega à literatura e à poesia em especial. Kafka disse que “tudo o que não é literatura me aborrece”, palavras que se encaixam perfeitamente no perfil do poeta Milton.

Para você, qual é a função do escritor?

Já tive discussões intermináveis com o Milton sobre isso, quando eu acreditava que o poeta poderia e deveria salvar o mundo. Ele me convenceu que o escritor deve apenas escrever, e tentar fazer isso da melhor forma possível. Nada mais.

Com o fácil acesso à internet, tornou-se mais fácil para um autor divulgar seu trabalho. Você considera que houve uma banalização da literatura por causa disso?

Em maior ou menor grau, o escritor sempre procurou um jeito de mostrar sua obra, e encontrou. Mas, apenas a qualidade prevaleceu. Só o tempo dirá quem tem qualidade.

O que você considera necessário para que um autor se sobressaia entre os outros?

Não vejo necessidade de “sobressair”. Um escritor tem que escrever e mostrar sua obra, apenas isso.

Fale sobre o autor Milton Rezende e sua obra.

Grande poeta, de obra densa, intrigante, que não permite a indiferença ou muxoxo quando é lida. Poeta definitivo, que diz o que quer dizer, sem reticências, sem rodeios, porém sem desperdiçar palavras, sem jogar ao ar blasfêmias estéreis, sem pirotecnia. Às vezes é seco como Drummond, tétrico com Edgar Alan Poe, mortal com Augusto dos Anjos, sensitivo como Fernando Pessoa, mas é sempre Milton Rezende, o que disse que “somos apenas alguns/ao redor de uma mesa/ou de um pensamento/e nos amamos com receio”, em seu segundo livro (Areia – À fragmentação da pedra – 1989) e que hoje nos ensina a fazer poesia: “Não se deve fazer/poesia com eu faço/Poesia é certeza de conceitos, /de imagens e eu não sei/ de nada apenas acho. ” (A sentinela em fuga e outras ausências – 2011). Convém não levar em conta esta lição, pois deve-se sim, fazer poesia como Milton Rezende faz. Poesia da melhor qualidade.