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Maria José, engenheira da palavra, foi em busca da poesia de Milton Rezende e fez um trabalho de levantamento exaustivo dos núcleos constantes de toda a sua obra. Até chegar ao que ela denomina em seu texto de núcleo sutil de erotismo. Até chegar a este estupendo poema de Milton Rezende, intitulado

MARIA

O céu desaba sobre mim
com sua cara de fogo
e nuvens de cores,
num movimento frenético
no compasso do amor.
Quando terminarmos
e o sol e a lua e as estrelas
forem embora nas alturas,
eu voltarei a ser noite
ou terei incorporado luzes
suficientes para esperar
até a próxima vez?!

“Este poema é outro exemplo do núcleo denominado “erotismo sutil” e gira em torno do re/encontro e sua fugacidade. Intervalos de luz e de sombras em que o poeta se questiona sobre o vazio ou o preenchimento, o vácuo ou a plenitude do amor”. Maria José chegou perto e arriscou sua interpretação. Chegar até um poema como este, chegar perto do fogo que é este poema, é correr todo o risco de se queimar ao contato com o que ele diz. Porque o poema não diz a melancolia, não permanece no impasse, não escreve a impossibilidade geradora de paralisia. O poema abre-se à fronteira do imprevisível humano. O poema não constata: “E eu voltarei a ser noite.” O poema pergunta sobre as condições de possibilidade de o amor ter deixado marcas luminosas como vagalumes. Que sinalizam o caminho da espera. A espera é tudo no amor. Uma arte para poucos. E o poema de Milton Rezende é uma espécie de suma preciosa desta arte para poucos. Poucos esperam pelo tempo em sua vinda, pelo que demora. O poema de Milton Rezende demora na pergunta. Com a delicadeza de quem foi marcado pela luminosidade que os corpos produzem quando se atraem. O poema habita o intervalo. E se move e diz de novo o retorno do amor na instabilidade de um talvez.
Luiz Fernando Medeiros

Editora Penalux, 2015

Algumas opiniões de autores conceituados e conhecedores dos trabalhos do autor Milton Rezende



André Rocha:

“Quanto ao autor, é serio e persiste na literatura, quando muitos desistiram. A
persistência pode gerar o sucesso, claro. Quanto à sua obra, ela se confunde com sua
vida. Milton Rezende escreve sobre aquilo que conhece. Veja o que ele disse há muitos
anos (para falar a verdade, no século passado): ‘sempre amei como quem cometia um
assassinato premeditado, que cobria várias fases de planejamento e execução’. Isto
revela o homem revoltado conforme a concepção de Albert Camus, ou seja, um homem
que se opõe à ordem que o condena à morte desde o nascimento. Desta inquietude
surge seu impulso criativo que vem se aprimorando a cada publicação”.

Edson Braz da Silva:

“Grande poeta, de obra densa, intrigante, que não permite a indiferença ou muxoxo
quando é lida. Poeta definitivo, que diz o que quer dizer, sem reticências, sem rodeios,
porém sem desperdiçar palavras, sem jogar ao ar blasfêmias estéreis, sem pirotecnia.
Às vezes é seco como Drummond, tétrico como Edgar Alan Poe, mortal como Augusto
dos Anjos, sensitivo como Fernando Pessoa, mas é sempre Milton Rezende, o que disse
que ‘somos apenas alguns/ao redor de uma mesa/ou de um pensamento/e nos amamos
com receio’, em seu segundo livro Areia (À Fragmentação da Pedra – 1989) e que hoje
nos ensina a fazer poesia: ‘não se deve fazer/poesia assim como eu faço/Poesia é
certeza de conceitos,/de imagens e eu não sei/de nada, apenas acho’ (A Sentinela em
Fuga e Outras Ausências – 2011). Convém não levar em conta essa lição, pois deve-se
sim, fazer poesia como Milton Rezende faz. Poesia da melhor qualidade”

Marcelo Serodre: 

“Falar sobre a obra do Milton, para mim, é fácil. É uma obra que de certa forma
acompanhou minha própria escrita durante toda vida. Gosto de todos os livros dele,
mas gosto mais de ‘O Acaso das Manhãs’ e de ‘Areia (À Fragmentação da Pedra)’.
Sua forma de escrever é ácida, sem concessões. Seus poemas são mordazes,
incrivelmente corajosos. Ele nunca poupa a si mesmo nem ao mundo. Milton vem da
melhor tradição da poesia e prossegue com ela”.